Desbravando o Cinema

Criando Um Personagem do Zero

Criar um personagem ou um roteiro não é uma tarefa fácil, pois incluem várias etapas para que o universo da história que você deseja seja estabelecido. Um roteiro é composto por assunto, atos, premissa dramática, ponto de virada e PERSONAGEM.

De acordo com Syd Field – Manual do Roteiro, personagem é:

“É o fundamento essencial de seu roteiro. E o coração, alma e sistema nervoso de sua história.”

Convido você a contar no dedo pelo menos cinco personagens que você teve um grande afeto e chorou horrores quando esse personagem morreu.

O fato de você ter chorado é porque se importou com as dores desse personagem. O roteirista cumpriu bem o papel de criar um personagem multidimensional, detalhando bem o interior e exterior do seu protagonista.

1. Criando um Personagem

Em primeiro lugar, você deve definir quem é o seu personagem principal. Uma vez escolhido, você deve começar a criar um “retrato” encorpado do seu protagonista, pois ele será a ação da sua história.

criando um personagem

O diagrama acima, foi baseado no livro, Manual do Roteiro – Syd Field. É uma fórmula de como você deve desenvolver o seu personagem, dividida em interior e exterior.

Vale ressaltar que o interior do personagem não necessariamente vai para o roteiro ou filme, é usado para criar a personalidade, traços, costumes e visual do personagem.

O interior do personagem vai do nascimento ao presente e é composto pela biografia que traz forma ou modela o seu personagem.

O seu personagem é masculino? Onde vive e nasceu? Tem irmãos? Que tipo de infância teve? Como era o seu relacionamento com os pais?

Formulando o seu personagem desde o nascimento ele vai tomando forma.

Com o aspecto interior do personagem construída através de sua biografia, você pode construir o aspecto exterior.

O aspecto exterior do seu personagem acontece quando o roteiro começa e vai até o ato final. Para a construção do personagem é preciso criar relações dele com pessoas ou coisas. De acordo com Syd Fiel, todos os personagens dramáticos interagem de três formas:

 

  1. Eles experimentam o conflito para alcançar sua necessidade dramática
  2. Eles interagem com outros personagens
  3. Eles interagem consigo mesmos

 

Esses sãos as três formas de interação que eu explicarei melhor quando criamos nosso vilão de quadrinho.

Para que o seu personagem não fique unidimensional, é preciso dividir sua vida em três aspectos básicos: o profissional, pessoal e privado.

Outro aspecto importante é a necessidade dramática do seu personagem que conversa com a premissa dramática do roteiro. Qual a necessidade do seu personagem no roteiro? Vingança como em John Wick? Criar um carro que vença corridas como em Ford V Ferrari? Descobrir o que aconteceu com a Melody em Arquivo 81?

Tem outro aspecto muito interessante na hora de construir o seu personagem que não pode ficar de fora, mas só vou falar dele quando construirmos o nosso vilão.

2. Construindo o Nosso Vilão

O Passado do Vilão

A biografia do personagem é importante para dar forma ao antagonista na hora de escrever o roteiro. Todo vilão tem um passado tenebroso e história de origem que o transformou quem ele é no presente.

Biografia do personagem

dcbrasilclub

Fonte: iFunny

O nome você pode criar um aleatório ou se quiser ser mais profundo, pode buscar um com significado que descreva o seu personagem. Portando, o nosso antagonista será brasileiro e se chamará Arthur Souza.

Arthur Souza foi abandonado pelo pai, que foi um mutante muito importante na história do combate da criminalidade no Brasil. Ele foi criado pela sua mãe e padrasto.

Detalhe: Arthur não sabe quem é seu pai.

O seu padrasto foi um ser humano desprezível que o maltratava de várias formas: deixava Arthur passar fome, o deixava acorrentado no quintal, o batia com pedaços de ferro e madeira.

Além dos problemas com o padrasto, Arthur tinha fobias sociais, não conseguia se relacionar com ninguém, era desprezado na escola e sofria bullying.

Apesar dos obstáculos na infância, internações psiquiátricas na adolescência, Arthur teve tempo para aprimorar a sua inteligência com um QI de, 349.

Com seus 30 anos, ele começou a executar o seu plano de criar protótipos altamente avançados em seu corpo. Esses protótipos soltam raios de energia que pode desintegrar qualquer pessoa.

Em um dia de teste, algo deu errado e o raio de energia o atingiu. Ao invés de ser desintegrado, o incidente ativou a sua célula mutante, lhe dando super força, agilidade, teletransporte e raios de alta energia.

Definição do Vilão

Chegou a hora de pegar a nossa base que é a biografia e definir o nosso antagonista.

Necessidade Dramática do Personagem

A necessidade dramática é o que motiva a jornada de um personagem em seu filme. A necessidade dramática de Arthur tem forte relação com a sua biografia. Como ele sofreu com torturas de seu padrasto, foi desprezado por amigos e sociedade. O seu objetivo como vilão é exterminar pessoas que para ele fariam o mal para a sociedade.

Toda necessidade dramática tem obstáculos a serem enfrentados, os obstáculos de Arthur pode ser um herói em específico ou um grupo de heróis.

Interação do Personagem

1) Experimentando o conflito para alcançar sua necessidade dramática:

Para alcançar a necessidade dramática que é exterminar pessoas que em sua visão fazem o mal para a sociedade, ele precisa ter habilidades e ele conseguiu com o incidente. Existem outros obstáculos que o impede, mas só vou citar essa.

2) Ele interage com outros personagens:

Posso criar outros personagens para a interação e desenvolvimento do vilão, no nosso caso ele se relaciona em antagonismo com os heróis que o impede e com suas vítimas.

3) Ele interage consigo mesmo:

Arthur além de enfrentar os heróis, ele enfrenta a sua própria mente, ele sonha e vê todo dia o seu falecido padrasto que o incentiva a matar pessoas. Outra interação consigo mesmo que pode ser adicionada, é a procura pelo pai que o abandonou.

Podemos dividir o personagem em três aspectos básicos que o ajudam a ser mais tridimensional: profissional, pessoal e privado. Alguns desses aspectos já foram apresentados durante o nosso desenvolvimento. Dessa forma, não vou falar deles.

Visual do Personagem

O visual do personagem é muito importante ao desenvolver o exterior, pois o seu visual é a forma de refletir o passado.

O seu andar é lento, cansado e cabisbaixo por conta de sua relação com a sociedade que sempre o negou como pessoa e recusou ajuda.

Por conta do desenvolvimento de seus transtornos psicológicos, ele não consegue comer bem e vive no quarto. Dessa forma, ele é magrinho e pálido.

Podemos incluir também um problema físico que veio do incidente ou das torturas de seu padrasto, um exemplo seria andar mancando por conta de uma ferida que o padrasto provocou.

O visual e como o personagem vai se comportar, vem muito do estudo do ator que vai interpretar, mas o roteirista pode muito bem passar suas ideias para o ator.

Conclusão

Toda história é estudada de várias formas antes que seja iniciada. O criador coloca a mão na massa e vai atrás de informações para criar o seu personagem, faz perguntas para si próprio e obtêm as repostas por um estudo criativo.

A criação da biografia é o pontapé inicial para trazer forma ao personagem e entender como ele será da primeira palavra do roteiro até a última.