Para acompanhar Ford V Ferrari: O segundo ato, recomendo que leia Roteiro – Primeiro Ato com John Wick para você entender “O que é um roteiro” e como é desenvolvido o Primeiro Ato de um filme, no texto eu utilizo John Wick – De Volta Ao Jogo (2017).
Dessa forma, tenho em mente que você leu o texto citado e vou ser direto em alguns conceitos. O filme que vamos trabalhar o segundo ato é Ford V Ferrari (2019).
Sinopse Ford V Ferrari:
O projetista Carroll Shelby e o piloto Ken Miles enfrentam a interferência empresarial, as leis da física e os próprios demônios para construir um carro de corrida para a Ford derrotar a hegemonia de Enzo Ferrari nas 24 horas de Le Mans.
Para iniciarmos o segundo ato é preciso saber qual é a premissa dramática do roteiro ou assunto do filme. É o assunto do roteiro que vai fazer o filme se mover para frente. Assistindo ao filme ou só lendo a sinopse, nós conseguimos descobrir a premissa dramática.
A premissa ou assunto do filme é derrotar a hegemonia de Enzo Ferrari na corrida de 24h de Le Mans. E a resposta a essa questão nos leva para a confrontação (segundo ato) e em toda confrontação enfrentamos os obstáculos.
A sinopse já nos mostrou os obstáculos, “O projetista Carroll Shelby e o piloto Ken Miles ENFRENTAM a interferência empresarial, as leis da física e os próprios demônios para construir um carro de corrida”.
Em um resumo rápido, a premissa dramática é criar um carro que derrote Enzo Ferrari na corrida de Le Mans. Dessa forma, iniciamos o segundo ato, onde os protagonistas enfrentam os obstáculos da própria empresa para chegar nos seus objetivos.
Vou pegar trechos de Ford V Ferrari e comentar todos os obstáculos que os personagens enfrentam para chegarem em seu objetivo de derrotar Enzo Ferrari. Lembrando que fiz o mesmo com John Wick – De Volta Ao Jogo, mas com o primeiro ato.
Os primeiros obstáculos enfrentados pelos protagonistas Ken Miles (Christian Bale) e Carrol Shelby (Matt Damon) é o próprio carro que eles estão desenvolvendo para combater Enzo Ferrari.
No primeiro teste de Miles, o roteiro traz vários problemas a serem solucionados.
Ken Miles: “É horrível! Sai sempre da pista, a 3° marcha é muito alta, e o torque não segura, a direção está solta porque a dianteira fica leve, e ao passar de 225 Km/h, parece até um avião”
Como se trata de um roteiro de filme e não um documentário sobre consertos de carros esportivos, não teremos todas as soluções para tal obstáculo sendo mostradas em primeiro plano.
Ken Miles: “Acima de 145km/h, o ar entra e não sai. É a mangueira, sinto isso no volante.”
Miles volta com o carro para pista com lãs para observar o fluxo de ar e Phil Remington (Ray McKinnon) observa:
“Ali, bem ali! O fluxo de ar fica preso.”
Engenheiro: “Verdade. A lã sopra para cima e a frente se levanta. Droga, ele tem razão!”
Deixar o motor mais leve é a solução!
Engenheiro: “Deixamos 23Kg mais leve do que a unidade NASCAR. As novas cabeças de cilindro são de alumínio. Amortecedores de vibração, bomba d’água e válvulas menores.”
O verdadeiro vilão do roteiro não são os problemas no carro que ainda vão surgir durante o filme. Leo Beebe (Josh Lucas) é o verdadeiro vilão. Com seu ego ferido pela mudança da empresa em fugir do padrão e começar a competir em corridas, Beebe faz de tudo para estragar a imagem de Ken Miles.
Em uma conversa com Shelby, Beebe diz:
“Ele (Miles) é um beatnik, pelo menos se veste como um. A Ford representa confiança. Ken Miles não é um cara da Ford.”
Beatnik: indivíduo que rejeita o conformismo burguês.
Shelby defende Miles, mesmo assim Beebe insiste:
“Para um piloto tipo Ford num carro Ford, Sr. Shelby. Esse é o jeito Ford.”
Como Beebe é vice-presidente, sua autoridade não deixa escolha e Miles não participa da primeira corrida que fracassa com outro piloto, como o esperado.
A solução para esse problema aparece no quarto obstáculo criado pelo roteiro.
Shelby dialogando com Lee Lacocca (Jon Bernthal):
Shelby: “Está dizendo que Beeb está 100% no comando agora?”
Lee Lacocca: “Ele está! E ele quer Miles fora.”
Durante a conversa o roteiro criar mais um problema, os freios falham.
Uma falha nos freios por conta do superaquecimento
Phill: “Em vez de trocar as pastilhas no pit stop, trocaríamos todo o sistema de freio, inclusive os rotores.”
Solução do 3° e 4° obstáculo
Beebe chega na oficina junto a Henry Ford II (Tracy Letts) para conhecer o carro e demitir Miles, mas Shelby tranca Beeb em sua sala e leva Ford para dar uma volta no carro. Após a volta, Shelby pergunta:
Shelby: “Sr.Ford, vocês está bem?”
Ford: “Eu não fazia ideia. Eu gostaria que meu pai estivesse vivo para ver isso. Para sentir isso.”
Shelby: “Não é qualquer um que consegue controlá-la facilmente.”
Ford: “Absolutamente não. Eu não fazia ideia.”
Após esta conversa Shelby convence Ford II a deixar Miles na corrida e competir.
Durante a corrida os carros correm a menos de 7000 rpm para não cheguem no limite do carro e Beebe coloca o limite de 6000 rpm com objetivo de Miles perder a corrida.
Shelby vai contra Beebe e fala para Miles ultrapassar os 6000 rpm e ele vence a corrida.
Phil pegar um martele e bate na porta, a colocando no lugar.
Beebe liga para um integrante da equipe pedindo para avisar ao Miles que diminua a velocidade.
Shelby o impede de mostrar a placa com o aviso a tempo de Miles ver.
Percebe que o Ato II ou confrontação “passeia” entre problemas criados pelo vilão e em seguida o protagonista resolve o problema e esse desenrolar vai até o final.
Recomendo assistir ao filme, pois não foi possível colocar todos os detalhes e alguns foram omitidos para não estragar a sua experiência.
Não esqueça de visitar Roteiro – Primeiro Ato com John Wick para aprender mais sobre os 3 atos de um roteiro.
Deixo uma reflexão, filmes em que a confrontação do protagonista é a própria mente dele e ele tem que enfrentar os seus próprios problemas, quem é o vilão?