Sempre que assistimos filme de terror, investigação e suspense, nos deparamos com uma narrativa misteriosa, onde o enredo tem a função de esconder o crime cometido e quem cometeu.
O cineasta David Fincher é especialista no tema, mas não só ele, os autores brasileiros de novela também provaram que sabem fazer um bom mistério, como na novela da Globo, A Favorita.
A investigação e suspense podem estar em vários gêneros e um deles são em filme de terror. Vamos utilizar o exemplo da trilogia Rua do Medo – Netflix. Mas antes precisamos introduzir o que é enredo e história. Explicamos no texto O QUE É ENREDO E HISTÓRIA, mas vamos resumir para você
O enredo é basicamente o que você vê de forma explícita no filme. Em um filme de terror, você sabe quem é a entidade que está atormentando a personagem? Não! Pois o enredo só mostra o que é explícito.
A história é a soma do enredo mais o que presumimos no filme, como, por exemplo. Uma personagem desapareceu por anos. O que aconteceu com ela? O enredo não revelou, mas presumimos/inferimos o que pode ter acontecido, criamos a história na nossa cabeça.
No artigo O QUE É ENREDO E HISTÓRIA, explicamos o que é narrativa, mas vamos resumir para você.
Narrativa são eventos ligados por causa e efeito de forma cronológica. Exemplo: João chega do trabalho e quebra o espelho e um pouco depois descobrimos que ele foi demitido do serviço. João ter quebrado o espelho é um efeito e a causa desse efeito é ter sido demitido, e repare que tudo aconteceu de forma cronológica.
Mas o que acontece quando o roteirista decide omitir a causa? Vamos usar um filme de terror como exemplo.
Em Invocação do Mal 2 a família Hodgson é assombrada pelo espírito de Maurice Grosse. O enredo nos mostra pistas do porquê Maurice assombra a família. Dessa forma, presumirmos com as pistas.
No final do filme descobrimos que a CAUSA do Maurice assombrar a família é a entidade VALAK.
O enredo OMITIU a causa da assombração e com essa omissão ele nos convida a investigar o filme com os demonólogos Warren.
O filme de terror que vamos utilizar parar detalhar a estrutura de uma investigação será a trilogia Rua do Medo – Netflix.
Antes de tudo, leia a sinopse do primeiro filme (Rua do Medo:1994 – Parte I) que já é o suficiente para acompanhar o artigo:
“Após uma série de assassinatos brutais, um grupo de adolescentes enfrenta uma força maligna que aterroriza uma cidade há séculos.”
Conhecendo o que é enredo e história, podemos analisar o diagrama tirado do livro “A Arte do Cinema – Uma Introdução” de David Bordwell e Kristin Thompson.
A princípio, o diagrama é baseado em filmes com o tema thriller como, por exemplo, Seven – Os Sete Crimes Capitais de David Fincher.
Em um filme de investigação ou thriller, o enredo te apresenta d= crime descoberto, e = detetive investiga, f = detetive revela a, b e c.
Perceba que se a, b e c fossem revelados no início, o enredo não teria uma investigação e uma revelação no final do filme.
Dessa forma, o padrão a ser seguido é que o enredo nos apresente o crime (d), então iniciamos o segundo ato com a investigação(e) e no terceiro ato a = crime concebido, b = crime planejado, c = crime cometido são revelados(f) pelo enredo que antes tinha nos indicados pistas para inferir/investigar com o protagonista(detetive).
Eu citei a palavra “ATOS”, caso não saiba o que significa essa estrutura, visite Primeiro Ato com John Wick e Segundo Ato com Ford v Ferrari.
Em primeiro lugar, no filme de terror, A Rua do Medo, vamos começar pelo enredo e mostrar como o filme utiliza o diagrama.
Na Rua do Medo – Parte I é nos apresentado um crime (d) cometido por Ryan Torres que foi executado pelo policial Nick Goode.
Vale ressaltar que o crime cometido (d) não significa que foi só um, mas podem ser vários e cometidos por mais de uma pessoa, que é o caso desse filme de terror.
Nesse sentido, iniciamos a investigação pelo detetive para termos a revelação dê a, b e c. A investigação em um filme não é feita só por alguém especializado em investigação, mas também pelos protagonistas, que é o caso de A Rua do Medo.
Os protagonistas Deena, Samantha, Kate, Josh e Simon descobrem que os crimes são cometidos por pessoas possuídas e que tem relação com uma bruxa chamada Sarah Fier.
O filme é dividido nos anos de 1994, 1978 e 1666. Nos anos de 1994 e 1978 nós acompanhamos os crimes cometidos e a investigação com diferentes protagonistas. Em 1666 encontramos respostas sobre alguns personagens e as revelações a, b e c.
Descobrimos que os crimes têm relação com as gerações passadas do policial Nick. Em 1666 ele concebeu um pacto para obter poder e prosperidade. Mas ele teria que fazer sacrifícios que é colocar o nome de inocentes no ritual e é aí que temos o planejamento do crime.
Portanto, para colocar o nome de inocentes em um ritual é preciso de planejamento que passa pelas gerações de Nick de 1666, 1978 e 1994.
Dessa forma, as suas três gerações obtêm prosperidade em suas carreiras colocando o nome de inocentes para serem possuídos e cometer crimes para o pacto.
O enredo também nos revela quem é a Sarah Fier e que, na verdade não é a vilã, somente Nick.
As revelações nesse filme de terror foram entregues no terceiro filme, A Rua do Medo: 1666 – Parte 3, mas no segundo ato somos levados de volta para 1994 e descobrimos que toda essa revelação a, b e c foi descoberta por uma visão de Deena.
Por fim, descobrimos a estrutura de um filme de investigação em um filme de terror. Para entender bem a estrutura é preciso saber a diferença entre enredo e história e conhecer o diagrama apresentado.
Recomendo que assista à trilogia para pegar mais detalhes importantes que deixei de fora para não estragar toda a sua experiência.
Deixo como recomendação Livrai-nos do mal de Scot Derrickson que tem uma estrutura bem-organizada e filmes propriamente de investigação como Millennium: O homem que não amava as mulheres Garota Exemplar e Seven – Os Setes Crimes Capitais de David Fincher