Meus anos de experiência no exército foram essenciais para os primeiros cinco anos do que eu chamo de apocalipse. Um vírus mortal que veio do espaço se espalhou por todo o mundo e pelo que estimam, matou quase 6 bilhões de humanos. Eu tive sorte, pois entre milhões de pessoas, eu também sou imune.
Hoje vivo em minha cidade natal que está deserta e coberta pela natureza. É muito triste presenciar o que aconteceu com os humanos, mas também é lindo ver a natureza invadindo o nosso espaço e dando mais beleza para o vazio existencial que convivo todo dia.
A minha casa é quase um abrigo subterrâneo, então fico bem protegido de outros sobreviventes. A proteção não é o único elemento que garante a minha sobrevivência, eu preciso me alimentar e me medicar. Dessa forma, eu preciso sair da minha segurança e buscar recursos nos bairros próximos.
Eu conseguia me virar sozinho por conta das minhas habilidades militares, mas com o tempo fui ficando velho e me sentindo solitário. A única companhia que tinha era a foto da minha esposa que faleceu antes da pandemia.
Deus foi bom comigo e me deu um amigo que conheci na busca por recursos. Por coincidência, ele também foi militar. Nós sempre nos encontrávamos a cada três dias em um ponto turístico da cidade, ao amanhecer. Nós conversávamos sobre nossas conquistas e defesas pela pátria norte-americana.
Eu nunca fui de amigos, mas eu precisava de uma conversa humana, apesar de eu conversar todo dia com a natureza.
Eu sempre voltava para casa ao entardecer depois de muita conversa e experiência. Ao abrir a porta do meu abrigo, me deparava várias vezes com um envelope escrito “Diagnóstico”. No início do documento tinha o nome de um médico “Psiquiatra: Dr. John Fletcher”. Abaixo tinha o meu diagnóstico que dizia: “O paciente tem um tipo de esquizofrenia rara. Ele cria personagens amigáveis em sua mente e convive com elas. O problema surgiu com o transtorno pós-guerra e morte da esposa. Ele esquece que tem a doença, nunca lembra.”
Mesmo lendo o meu diagnóstico todo dia, eu não me abalo, pois eu nunca fico sozinho.